Os ensaios clínicos que reforçam os efeitos terapêuticos dos psicodélicos têm tornado esses expansores de consciência cada vez mais populares. À medida que os efeitos da cetamina e da psilocibina, por exemplo, se mostram eficazes no tratamento de transtornos como a depressão, mais pessoas despertam interesse pelo uso. Mas os psicodélicos não são uma panaceia. Nem todas as pessoas se dão bem com essas substâncias.
Uma reportagem do jornal The New York Times, assinada pela jornalista Dana G. Smith, e traduzida pela Folha de S.Paulo, revela como os psicodélicos podem causar episódios psicóticos em pessoas com histórico de transtorno bipolar ou esquizofrenia.
Como escreveu Smith, especialistas que estudam essas substâncias recomendam fortemente que elas sejam usadas apenas em situações terapêuticas com supervisão médica, como em um ensaio clínico ou em um tratamento médico reconhecido, a exemplo dos que são feitos com cetamina (autorizados tanto nos EUA quanto no Brasil).
É verdade que a chance de uma overdose fatal é baixíssima, assim como a possibilidade de desenvolver dependência — o que faz com que essas substâncias sejam classificadas como as menos prejudiciais no uso recreativo —, mas, ainda assim, existem outros riscos que devem ser levados em conta.
Por isso, qualquer pessoa que queira ingerir substâncias como ayahuasca, LSD, cogumelos e MDMA deve se atentar para alguns fatores.
Atenção aos riscos
A preocupação principal dos especialistas é a possibilidade dessas substâncias desencadearem episódios psicóticos ou maníacos. O problema é que, como grande parte dos psicodélicos ainda é proibida em vários países, as informações sobre os usos seguros são escassas, sendo necessárias muito mais pesquisas sobre o tema.
Os poucos estudos mostram que, na população geral, a chance de haver um episódio de psicose ou mania é baixa. Mas as possibilidades aumentam consideravelmente em pessoas com histórico de esquizofrenia e transtorno bipolar. Isso explica porque essas pessoas, geralmente, são excluídas dos estudos e tratamentos com cetamina.
“Tive muitos pacientes que me relataram que estavam mais ou menos bem, tomaram LSD e desde então apresentaram esquizofrenia”, disse, à reportagem, o professor de farmacologia Bryan Roth, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. “Meu palpite é que eles tinham alguma predisposição subjacente à esquizofrenia e se desequilibraram quando usaram o psicodélico.”
Outro especialista, Charles Nemeroff, diretor do departamento de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade do Texas, concorda: “Acho que o problema com esses medicamentos muito potentes é que provavelmente há pessoas geneticamente vulneráveis a apresentar doenças psiquiátricas graves, mas que ainda não atingiram esse limiar. Esses medicamentos podem ativar essa vulnerabilidade.”
É por isso que, segundo os pesquisadores, pessoas que apresentem transtornos psiquiátricos graves não devem usar psicodélicos.
De modo geral, exames detalhados de cada paciente ajudam a amenizar grande parte dos riscos. Por isso, recomenda-se que os usos sejam feitos em ambientes controlados, a exemplo de pesquisas em universidades ou clínicas preparadas, que podem oferecer o suporte necessário aos pacientes, já que contam com equipes multidisciplinares.
Como afirmou Celia Morgan, professora de psicofarmacologia da Universidade de Exeter (Inglaterra): “Acho que [os psicodélicos] têm um valor enorme. Mas vamos perder isso se não estivermos atentos aos riscos”.
Leia aqui a reportagem original em inglês do NYT (ou a versão traduzida para o português na Folha de S.Paulo).