Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, os transtornos mentais são um dos principais produtos da nossa sociedade. “O capitalismo produz doença mental. E existe uma indústria farmacêutica que se alimenta da saúde mental”, resumiu.
Ribeiro é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde ajudou a fundar o Instituto do Cérebro, um dos principais polos de pesquisa com psicodélicos do Brasil. Recém confirmado como integrante da equipe de pesquisadores do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), ele conversou com o blog do CEE.
Na entrevista, ele destacou que a base da saúde mental é composta por sono, alimentação e exercício físico de qualidade. Além disso, Sidarta pesquisa e defende o uso de substâncias psicodélicas no cuidado aos transtornos psíquicos, como LSD, mescalina, psilocibina, DMT e MDMA, além da maconha.
Segundo o pesquisador, essas substâncias atuam na plasticidade dos neurônios, promovendo novas conexões e tornando-se poderosas para tratar problemas como depressão e doenças neurodegenerativas.
“Hoje, entendendo melhor os mecanismos celulares dessas drogas, percebemos que, por algumas horas de uso, o cérebro fica extremamente plástico, ou seja, maleável”, explicou. “Estamos falando de uma medicina muito poderosa. A gente precisa olhar para os psicodélicos com muito respeito, com muita atenção, como estão fazendo Estados Unidos, Israel, Alemanha.”
Na conversa, ele ainda citou um recente artigo da Science, que mostrou que os psicodélicos podem atuar não só nos receptores situados na membrana das células, mas também naqueles que estão dentro das células. “É uma revolução científica acontecendo neste momento, sobretudo em países do primeiro mundo”, acredita.
O pesquisador destacou ainda a posição de relevância do Brasil no campo das pesquisas com psicodélicos, citando o levantamento que mostrou que o país ocupa hoje o terceiro lugar no mundo entre os países que mais produzem estudos de impacto sobre o tema.
“Os estudos tomaram como foco a ayahuasca no tratamento da depressão. Isso tem a ver com fato de que a ayahuasca é legal no Brasil desde os anos 1980. E seu uso vem de povos ribeirinhos que aprenderam, por sua vez, com os povos indígenas”, explicou.
“Estamos falando de uma medicina da floresta, muito poderosa e de um poderosíssimo antidepressivo, muito útil e importante para ajudar pessoas a saírem de quadros de ruminação, de sofrimento psíquico. Hoje existe muito interesse das farmacêuticas sobre a ayahuasca, inclusive com tentativa de patentear e transformar isso em remédio que fica nas prateleiras para a pessoa pedir a pílula e usar, o que é um equívoco.”
Sidarta reforçou também os impactos negativos da pandemia na saúde mental. Segundo ele, as sequelas incluem não apenas problemas biológicos e econômicos, mas também uma crise existencial sobre como lidar com a proximidade da morte.
O pesquisador aponta que gosta de conversar com o líder indígena Ailton Krenak, porque ele questiona a confiança cega na ciência e a importância de discutir modelos de sociedade para vivermos melhor no futuro. Para isso, na sua visão, é necessário fortalecer a cooperação e a colaboração em vez da competição e predação como lei da natureza. “Se todo mundo do planeta puder morar direito, dormir direito, sonhar e compartilhar seus sonhos, fazer exercício físico, comer comida sem veneno, tendo os robôs fazendo trabalho para nós, isso aqui vai ficar muito bom!”, conclui.
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Foto: Elisa Elsie/ Divulgação