A conferência Psychedelic Science começou nesta quarta-feira com uma grande ovação a Rick Doblin, fundador da Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (Maps), considerado um dos heróis da renascença psicodélica. Psicólogo, ele teve seus primeiros contatos com terapias assistidas por MDMA nos anos 1970, antes de a substância ser proibida, em meados dos anos 1980, graças à sua popularidade nas ruas como ecstasy. Nos últimos 20 anos, ele se tornou uma liderança do renascimento dos psicodélicos na medicina graças ao seu trabalho com a Maps, que tem promovidos os ensaios clínicos necessários pra aprovar o MDMA no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático.
Foi emocionante ver o enorme auditório principal do Colorado Convention Center lotado, um lugar com espaço para 5 mil pessoas, muitas das quais estavam em pé ou sentadas no chão e nas escadas. Só faltou escalarem paredes para ver Doblin, que foi ovacionado pelo público como um rock star. Ele começou a palestra dando boas vindas: “Welcome to the future”. E em seguida emendou: “Uma conferência com 12 mil inscritos, com dois governadores na cerimônia de abertura. Será que eu estou viajando? Acho que não. O mundo é que está mudando”, disse, para delírio da plateia.
Doblin falou de sua inspirações para persistir por décadas numa luta que muitos poderiam considerar utópica. Lembrou da frase de Herman Hesse, “fazer parte de uma grande experiência era o meu destino”, com a qual se identificou e na qual se inspirou para fundar a Maps. Causou comoção ao mencionar a importância de Stanislav Grof para sua trajetória – o criador do método de respiração holotrópica e precursor dos estudos sobre uso terapêutico de psicodélicos estava na plateia e foi aplaudido de pé pelos presentes.
Doblin também lembrou de avanços regulatórios recentes nos Estados Unidos, como a aprovação de recursos para uma pesquisa de fase 2 que pretende investigar o uso da ibogaína no tratamento da dependência, no estado do Kentucky. Lembrou também da mudança radical que as pesquisas e produtos culturais, como o livro e a série Como Mudar sua Mente, de Michael Pollan, trouxeram. Com o jeito irreverente de sempre, usou um gráfico que apresentava a evolução do número de pesquisas na área para ilustrar a mudança na percepção pública em relação aos psicodélicos, brincando também como a foto do personagem Ted Lasso lendo o livro de Pollan. Ainda apresentou o plano da Maps de criar um cálculo do produto interno de trauma, com a nobre ideia de zerar o balanço global de trauma na humanidade.
No final, como não poderia deixar de ser, agradeceu aos bilionários que investiram nas pesquisas da Maps nos últimos anos, e fez um apelo por doações aos presentes. Toda a pesquisa sobre MDMA para estresse pós-traumático foi feita sem um tostão de dinheiro público. Todos os recursos vieram de doações que Doblin conseguiu com alguns bilionários e muitas pequenas doações, vendas de camisetas, chaveiros, broches e todo tipo de souvenir.
A proposta do evento, expressa em seu slogan, é “seja parte da revolução”. E o clima geral entre os participantes era esse mesmo, de celebração do grande momento de produtividade e reconhecimento que a ciência psicodélica vive.
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Imagens: Tarso Araújo/ Beneva