De acordo com a OMS, em 2021, existiam cerca de 280 milhões de pessoas com depressão no mundo. Com a pandemia, esse número aumentou para 350 milhões, sendo que um terço dessas pessoas não encontra alívio nos tratamentos tradicionais.
Como lembra o jornalista Marcelo Leite, em sua coluna do jornal Folha de S.Paulo, vem daí o aumento de interesse pelos estudos com psicodélicos. Substâncias como a psilocibina dos cogumelos e a DMT da ayahuasca apontam para resultados promissores no tratamento de transtornos mentais, sem a necessidade de uso contínuo.
Trata-se de uma mudança na forma como a depressão vinha sendo entendida. Até então, pesquisadores acreditavam que o transtorno seria causado por falta de serotonina no cérebro. Por isso, a fluoxetina (Prozac), que aumenta a concentração da serotonina nas sinapses, representou um grande avanço na década de 1980. Mas, como lembra o jornalista, o medicamento não é efetivo para todas as pessoas.
“A serotonina, mesmo em maior quantidade, não consegue induzir diretamente a formação de novas conexões (neuroplasticidade), que dariam à mente mais flexibilidade para lidar com as tristezas de todo dia”, escreveu Leite.
E é justamente na possibilidade de realizar novas conexões que os psicodélicos atuam, como uma série de estudos vêm demonstrando. O enigma para os cientistas, no entanto, é descobrir por que somente os psicodélicos conseguiriam induzir novas conexões e os medicamentos tradicionais não, sendo que ambos agem sobre os mesmos receptores neuronais da serotonina, o 5HT2A.
Um estudo feito com roedores e publicado na revista Science em fevereiro de 2023, pelo grupo de David Olson, da Universidade da Califórnia, apontou um caminho para responder a essa pergunta.
“Olson e seus colaboradores sugerem que as diferenças de efeito entre serotonina e diferentes psicodélicos sobre a neuroplasticidade seria dependente da capacidade distinta dessas substâncias em atravessar a membrana lipídica celular e alcançar receptores do tipo 2A localizados no interior dos neurônios”, explicou o neurocientista Stevens Rehen, da UFRJ, em uma coluna complementar do jornalista Marcelo Leite. “No final das contas, mais importante do que ter a chave é saber como chegar até a fechadura.”
O jornalista ressalta que muitas dúvidas sobre o tema ainda precisam ser respondidas. Os estudos ainda são reduzidos e preliminares, mas é possível saber que nem todas as pessoas poderão se beneficiar do uso de psicodélicos. Ao contrário da promessa da fluoxetina, os psicodélicos não se colocam como uma panaceia.
Leite lembra ainda que, como dono da empresa Delix, Olson tem interesses comerciais na criação de psicodélicos que produzam neuroplasticidade sem causar os efeitos subjetivos. Mas são bem vindas todas as iniciativas de buscar entender o funcionamento dessas substâncias.
“Há infelicidade demais no mundo para entrar nessa de sommelier de antidepressivos. Lítio, tricíclicos, ISRSs, psicodélicos, psicoplastógenos – quanto mais ferramentas nas mãos de sofredores e curadores, melhor”, arrematou o jornalista.
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Imagem: Arek Socha/Pixabay