Em um artigo para o site do Instituto Chacruna — organização sediada na Califórnia que se dedica aos estudos sociais dos psicodélicos, dirigida pela antropóloga brasileira Bia Labate — o jornalista Marcelo Leite fez um panorama amplo da ciência psicodélica nacional.
No texto ele revela como diferentes polos de estudo têm tornado o Brasil uma referência no campo, citando importantes pesquisas conduzidas por integrantes da Beneva.
Em 2021, um levantamento feito por David Wyndham Lawrence, publicado no Journal of Psychoactive Drugs, mostrou que o Brasil é o terceiro país que mais produz estudos de impacto sobre psicodélicos, ficando atrás somente dos EUA e do Reino Unido.
A razão é o acesso facilitado que os pesquisadores brasileiros têm da ayahuasca, o que confere uma vantagem em relação aos outros países, uma vez que, no Brasil, o chá de origem amazônica tem seu uso religioso reconhecido desde 1987, sendo totalmente regulamentado em 2010.
Um dos trabalhos mais referenciados foi feito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) por Fernanda Palhano-Fontes e colegas, com publicação no Psychological Medicine, em 2019. Foi a primeira pesquisa do mundo, controlada por um grupo placebo, a utilizar ayahuasca em pacientes com depressão resistente ao tratamento, mostrando que a bebida possui potenciais efeitos rápidos antidepressivos.
Como lembra Leite, as pesquisas com ayahuasca no Brasil remontam há mais de 30 anos, quando a igreja União do Vegetal iniciou o Projeto Hoasca, em 1991, em colaboração com Dennis McKenna e Charles Grob.
Em uma das pesquisas do projeto, publicada no Journal of Psychoactive Drugs, Grob e o professor Dartiu Xavier, consultor científico da Beneva e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), compararam 40 ayahuasqueiros adolescentes com 40 jovens que não faziam uso do chá, mostrando que os níveis de ansiedade e déficit de atenção eram menores no primeiro grupo.
Leite lembra ainda que Xavier foi responsável por liderar um grupo na Unifesp que também investigou psicodélicos como a ibogaína.
“Algumas clínicas no país já tratam dependentes químicos com ibogaína, a partir da década de 1990, como é o caso do Bruno Rasmussen Chaves, médico que atendeu milhares de usuários de drogas desde então. Hoje ele é sócio das clínicas de cetamina e ibogaína Bienstar Wellness na América Latina”, escreveu Leite, referindo-se à holding que opera a Beneva.
Com Dartiu Xavier e Eduardo Schenberg, Rasmussen publicou uma análise retrospectiva no Journal of Psychopharmacology, com 75 pacientes, revelando que 61% deles permaneceram abstinentes meses depois da experiência com ibogaína.
Além da ayahuasca e da ibogaína, pesquisadores do Brasil se interessam também por outras substâncias psicodélicas. Eduardo Schenberg, da Unifesp e Instituto Phaneros, também foi responsável por conduzir um ensaio com MDMA para transtorno de estresse pós-traumático, publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria.
Na Unicamp, Isabel Wiessner, Marcelo Falchi, Luís Fernando Tófoli e colaboradores publicaram cinco artigos sobre os efeitos cognitivos do LSD em indivíduos saudáveis; Além disso, Sidarta Ribeiro, coautor de alguns destes trabalhos, estudam os efeitos do LSD e da 5-MeO-DMT sobre os padrões de ondas cerebrais.
Leite cita ainda os trabalhos no campo das ciências humanas, a exemplo do próprio Instituto Chacruna e do grupo de historiadores conduzido por Henrique Carneiro, na USP. Para o jornalista, o potencial da ciência nacional consiste justamente na união dos vários campos de atuação dos pesquisadores.
“Os pesquisadores psicodélicos brasileiros nos campos biomédico e de Humanidades devem unir forças e aproveitar a massa crítica de expertise que o país possibilita pela disponibilidade da ayahuasca e sua aceitação cultural e legal”, acredita Leite. “É uma grande oportunidade para avançar o conhecimento psicodélico, para além da estreita medicalização de plantas e compostos usados por milênios com o objetivo ampliar a experiência humana.”
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Imagem: Mikhail Nilov/ Pexels.