A divisão de educação em saúde da Harvard Medical School (HMS) publicou um artigo especial sobre o uso de cetamina, escrito pelo médico Peter Grinspoon. Nos últimos anos, a substância que é usada como anestésico desde os anos 1960, também passou a ser considerada eficiente no tratamento de transtornos como a depressão grave e a ideação suicida.
Uma das formas comuns de aplicação da cetamina é através de infusões intravenosas, em pequenas doses. Grinspoon chama atenção para o crescente número de clínicas que administram o psicodélico nos EUA, e alerta para a necessidade de que as administrações sejam feitas em ambiente clínico com o auxílio de especialistas, como médicos anestesistas e psicólogos.
Apesar de ser considerada segura, a cetamina não é recomendada como primeira opção de tratamento para depressão. Além disso, é preciso estar atento para os efeitos colaterais, como náuseas e vômitos, que podem ser controlados com o auxílio de profissionais.
O texto lembra que, diferente dos medicamentos ISRS (Inibidor Seletivo de Recaptação de Serotonina) que fornecem alívio ao longo de semanas, as pessoas que sofrem com o peso da depressão podem começar a sentir os benefícios da cetamina em cerca de 40 minutos.
O artigo chama atenção para a aprovação do Spravato pela FDA, medicamento à base de cetamina no formato de um spray nasal, que deve ser usado com orientação médica. No Brasil, a Anvisa aprovou o produto em 2020.
“A eficácia da cetamina para o TDR (Transtorno Depressivo Resistente) foi demonstrada pela primeira vez em um tratamento de curto prazo em pesquisas que resultaram em reduções clinicamente e estatisticamente significativas nos escores de depressão para a cetamina em comparação com o placebo”, diz a publicação, citando uma pesquisa publicada no renomado JAMA Psychiatry, em 2019.
O uso de cetamina não é recomendado para algumas pessoas. No artigo, Grinspoon faz uma lista de quem deve evitar o tratamento com a substância:
1) pessoas com histórico de psicose ou esquizofrenia, pois há preocupação de que a dissociação produzida pela cetamina possa agravar os transtornos psicóticos;
2) pessoas com histórico de transtorno por uso de substâncias, uma vez que a cetamina pode causar euforia (provavelmente ao estimular os receptores opioides) e algumas pessoas podem desenvolver dependência (o que é chamado de transtorno de uso de cetamina);
3) adolescentes, pois existem preocupações sobre os efeitos de longo prazo da cetamina no cérebro em desenvolvimento de jovens;
4) pessoas que estão grávidas ou amamentando;
5) idosos que apresentam sintomas de demência.
Como lembra Grinspoon, a cetamina pode fornecer ajuda e esperança a pacientes que não encontram alívio com nenhum outro tratamento. Dada sua eficácia em pessoas que consideram o suicídio, é plausível considerar que ela salva vidas.
“À medida que aprendemos mais sobre a cetamina, por meio de pesquisas, e através das experiências das pessoas em clínicas, poderemos responder melhor às perguntas sobre a eficácia de longo prazo da substância e quais salvaguardas são necessárias para o tratamento”, aponta o médico. “Também podemos descobrir quem tem maior probabilidade de se beneficiar com segurança das terapias com cetamina e o melhor método de administração: infusão intravenosa, spray nasal ou comprimido.”
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