Imagem: Chokniti Khongchum/ Pexels
No Brasil, o uso ritualístico da ayahuasca é regulamentado por lei, o que também facilita os estudos científicos com o chá indígena de origem amazônica, colocando o país no mapa dos centros de pesquisa com psicodélicos.
A Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP é um destes polos. Pesquisadores como o professor Rafael Guimarães dos Santos se dedicam a estudar os efeitos terapêuticos da bebida, que vem se mostrando um potente antidepressivo.
Em entrevista ao jornal O Globo, Santos explicou que os efeitos da ayahuasca podem ser comparados a um sonho desperto. “Quando sonhamos, o pensamento não está linear. Ele faz conexões diferentes e isso também acontece sob o efeito da ayahuasca. A pessoa pode ver coisas com o olho aberto ou fechado. A substância então se liga a receptores de serotonina no cérebro, que estão presentes em áreas associadas ao processamento emocional, autoconsciência e introspecção. Essas são as mesmas áreas onde os antidepressivos tradicionais atuam”, pontuou o pesquisador.
Vale lembrar que, de acordo com Santos, hoje, ninguém pode buscar a ayahuasca como uma medicação antidepressiva no sentido formal. “Se uma pessoa está com depressão e quer ir até um desses locais que usam para fins espirituais, ela não deve fazer isso como se fosse uma medicação psiquiátrica”, explicou. “Se eu fosse dar um conselho para uma pessoa querida que tem algum transtorno e quer tomar ayahuasca, eu diria que, no máximo, ela pode experimentar, desde que seu psiquiatra autorize.”
Santos ainda informou que necessita urgentemente de voluntários para os estudos que vêm sendo feitos pela universidade.
De acordo com o pesquisador, os pacientes precisam necessariamente ser maiores de idade e apresentar alguma das condições e características que estão sendo avaliadas. Entre elas estão: depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), universitários que abusam do álcool e pacientes oncológicos que têm um quadro de angústia, depressão e ansiedade em função do diagnóstico. (saiba mais aqui)
Os resultados animadores que vem tornando o Brasil uma referência importante no campo dos psicodélicos tem ajudado a eliminar parte do estigma que envolve o tema. Mas Santos lembra que chegaram a rir da sua cara quando ele dizia que estudaria as substâncias. “Diziam que era loucura. Que ninguém nunca autorizaria dar alucinógenos para pessoas, em laboratório. Hoje, temos cada vez mais instituições de pesquisa com estudos no tema. Isso dá uma credibilidade porque tem cada vez mais pessoas importantes pesquisando. Os profissionais de saúde também estão mais abertos ao assunto”, acredita ele.
Outro ponto que ajuda a derrubar preconceitos, segundo o pesquisador, é o fato de que já existem substâncias psicodélicas que possuem uso autorizado. “A aprovação da cetamina também ajudou a melhorar a aceitação porque essa é uma droga que produz dissociação e mesmo assim foi aprovada como um tratamento, em um contexto controlado”, diz.
Segundo ele, em até 15 anos, é possível que, com mais estudos, os psicodélicos estejam disponíveis para a população geral.
Para ler a entrevista complete do jornal O Globo, clique aqui.