A depressão é uma doença mental que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Frequentemente, é caracterizada por sentimentos de tristeza, perda de interesse nas atividades diárias e alterações no apetite e no sono. É importante reconhecer os sintomas da depressão e buscar ajuda profissional se esses sintomas forem experimentados por um período prolongado de tempo.
Embora existam muitos tratamentos para a depressão, é comum que alguns pacientes não respondam a esses métodos. No entanto, nos últimos anos, a cetamina, um anestésico frequentemente usado em procedimentos médicos e veterinários, tem despertado grande interesse como um possível tratamento para a depressão resistente.
Neste artigo, vamos explorar os sintomas desse transtorno, quando procurar ajuda e como a cetamina pode ajudar no tratamento.
É normal sentir-se triste ou deprimido de vez em quando, mas se esses sentimentos persistirem por semanas ou meses, pode ser um sinal de depressão clínica. Muitas vezes, é difícil para as pessoas que sofrem desse transtorno procurar ajuda, pois elas sentem que ninguém pode entender o que estão passando ou que serão julgadas por falar de seus sentimentos. No entanto, é importante lembrar que a depressão é um transtorno real e tratável. Procurar ajuda precocemente pode fazer uma grande diferença no sucesso do tratamento.
Os sintomas da depressão incluem:
Diante da presença e persistência de mais de um desses sintomas, é importante consultar um especialista para determinar se realmente se trata de um caso de depressão e iniciar o tratamento adequado. Existem diferentes tipos de tratamentos. Os mais convencionais vão desde a psicoterapia até o uso de medicamentos antidepressivos.
No que diz respeito à psicoterapia, existem diferentes modelos. Cada um deles varia de acordo com a forma como cada escola ou abordagem concebe os fenômenos psíquicos em geral e, em particular, a natureza da depressão. É importante levar em consideração que a escolha de um tratamento psicoterapêutico adequado dependerá em grande parte das necessidades e preferências de cada paciente.
Os tratamentos baseados no uso de antidepressivos, por sua vez, são uma das alternativas mais comuns para enfrentar o transtorno. Eles devem ser prescritos e supervisionados por um profissional de saúde mental. É importante que esse profissional faça um acompanhamento adequado para determinar se os medicamentos prescritos são viáveis para um tratamento eficaz, além de identificar a presença de efeitos colaterais indesejados, como náuseas, dores de cabeça, desconforto gastrointestinal, fadiga ou insônia, que são comumente relatados. Embora esse tipo de tratamento conte com grande evidência científica, é importante destacar também suas limitações. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de remissão (ou porcentagem de cura) dos tratamentos feitos com antidepressivos pode chegar a 30%, ou seja, 70% das pessoas que usam esses medicamentos não observam nenhuma melhora.
As limitações dos modelos convencionais de tratamento para a depressão têm despertado, nos últimos anos, o interesse científico em desenvolver novos modelos de atendimento com maior eficácia. A falta de resposta aos tratamentos convencionais costuma ser conceituada em termos de depressão resistente ou refratária. Nas últimas décadas, como veremos, diferentes pesquisas têm se concentrado em demonstrar a eficácia de substâncias alternativas, como a cetamina, um analgésico frequentemente usado em intervenções médicas e veterinárias, também utilizado como droga recreativa.
A cetamina constitui uma alternativa viável e eficaz contra a depressão resistente? A seguir, analisaremos alguns estudos que fornecem evidências da eficácia dessa substância no tratamento da depressão nos casos em que os tratamentos convencionais não apresentam as respostas esperadas.
A cetamina é um medicamento que tem sido usado há décadas como anestésico na medicina veterinária e humana. No entanto, nos últimos anos, ela tem surgido como um potencial tratamento para a depressão resistente ao tratamento tradicional. A cetamina funciona na regulação do glutamato, um neurotransmissor que pode estar envolvido no desenvolvimento da depressão.
Em doses mais baixas do que as usadas para anestesia (doses subanestésicas), a cetamina pode induzir um estado de humor elevado e uma sensação de bem-estar em questão de minutos, o que levou ao seu uso no tratamento da depressão. Embora sejam necessárias mais pesquisas para entender completamente como a substância funciona na depressão e quais são seus efeitos a longo prazo, estudos iniciais descobriram que ela pode ser eficaz na redução dos sintomas depressivos e na prevenção da recorrência da depressão.
Isso sugere que a cetamina pode ser uma alternativa promissora para tratar casos de depressão resistente. Existem vários estudos randomizados que demonstram que entre 50% e 70% dos pacientes com esse tipo de transtorno respondem de maneira favorável à administração da substância.
Um estudo conhecido, realizado por Murrough e colaboradores, em 2013, destaca-se entre esses trabalhos. A pesquisa foi conduzida com dois grupos de pacientes com depressão resistente, aos quais a cetamina e o midazolam foram administrados aleatoriamente e de forma diferencial. De acordo com os resultados, a taxa de resposta do grupo que recebeu cetamina foi de 64%, enquanto o outro grupo, que recebeu midazolam como placebo, manteve uma taxa de resposta de 28%.
Outro estudo randomizado semelhante, publicado em 2020 por Tiger e colaboradores, indica que 70% dos pacientes com depressão grave submetidos à administração de infusões de cetamina responderam positivamente ao tratamento em questão. Já de acordo com uma revisão sistemática publicada no Journal of Psychiatric Research, em 2019, realizada por Caddy e colaboradores, que incluiu 99 estudos clínicos em um total de 2.407 pacientes, a cetamina apresentou uma taxa de resposta de 67% em pacientes com depressão resistente ao tratamento.
Como é possível observar, esses números são significativos, e sugerem que a administração de infusões de cetamina é uma opção promissora para tratar casos em que pacientes com depressão grave não respondem aos tratamentos tradicionais. No entanto, é importante destacar que a cetamina é uma substância potente que possui vários possíveis efeitos colaterais, não sendo adequada para todos os pacientes.
Ainda em 2017, um artigo publicado no Journal of the American Medical Association, com coordenação do psiquiatra Gerard Sanacora, da Universidade Yale, constatou a eficiência da cetamina no tratamento de transtornos mentais, apesar de reforçar a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. “Vários estudos agora fornecem evidências da capacidade do cloridrato de cetamina de produzir efeitos antidepressivos rápidos e robustos em pacientes com transtornos de humor e ansiedade que anteriormente eram resistentes ao tratamento”, escreveram os autores.
Vale lembrar que, para que os tratamentos sejam seguros, é necessário que sejam prescritos por um profissional de saúde qualificado e que sejam realizados sob sua supervisão em contextos hospitalares, com a infraestrutura necessária para esse fim.
Imagem: Kat Smith/Pexels