O atual renascimento dos psicodélicos na ciência ocidental guarda uma limitação: nem todas as pessoas podem se beneficiar dos efeitos terapêuticos destes compostos, que vêm se mostrando cada vez mais eficientes no tratamento de transtornos como a depressão e a ansiedade.
O uso de substâncias como o DMT da ayahuasca, por exemplo, não é recomendado para pessoas com diagnóstico de bipolaridade ou esquizofrenia. Além disso, os custos que envolvem as sessões de psicoterapia assistida por psicodélicos podem ser um impeditivo para algumas pessoas que poderiam se beneficiar da prática.
Por isso, pesquisadores estudam a possibilidade de criação de substâncias alteradoras da mente que dispensam os efeitos psicodélicos, são os chamados “parapsicodélicos”.
Em uma reportagem da revista Nature, o jornalista Elie Dolgin reflete sobre estes análogos, que vêm despertando a atenção da indústria farmacêutica, e levantando polêmicas no meio acadêmico, já que, para muitos pesquisadores, são justamente os efeitos psicodélicos que guardam o potencial antidepressivo destas substâncias.
Durante sete anos, a equipe do pesquisador Bryan Roth, da Universidade da Carolina do Norte, testou moléculas que se encaixavam nos mesmos neuroreceptores ativados por psicodélicos clássicos, como a psilocibina, o DMT e o LSD. Foi assim que chegaram a duas substâncias promissoras, as quais, de acordo com os resultados, possuem efeitos antidepressivos comparáveis aos dos psicodélicos.
Pesquisadores chineses também chegaram a resultados semelhantes. Um estudo conduzido pela equipe dos cientistas Cao Dongmei e Wang Sheng, do Instituto de Bioquímica e Biologia Celular de Xangai, revelou ser possível separar os efeitos antidepressivos dos efeitos de expansão da mente em substâncias psicodélicas.
Todas essas pesquisas, no entanto, foram feitas em roedores. “Não estou convencido de que a farmacologia dos camundongos seja facilmente traduzida para a farmacologia humana”, afirmou à reportagem o pesquisador David Nichols, da Universidade da Carolina do Norte.
De acordo com Nichols, os efeitos psicodélicos possuem um componente cognitivo importante para a terapia, a exemplo de efeitos como as experiências místicas e experiências fora do corpo, que parecem ajudar pessoas em sofrimento existencial ou com transtornos causados pelo uso abusivo de substâncias. “Acho que isso é realmente necessário.”
Do ponto de vista dos negócios, não há dúvidas de que os “parapsicodélicos” oferecem uma grande oportunidade. Mas os cientistas ainda não têm certeza absoluta do que acontece quando se reduzem os psicodélicos puramente aos seus efeitos farmacológicos.
Para ler a reportagem da Nature completa, clique aqui.
Imagem: Cottonbro/ Pexels.