Enquanto os estudos com psicodélicos avançam nos Estados Unidos, estima-se que a demanda por especialistas que saibam conduzir os tratamentos com essas substâncias cresça cada vez mais, mesmo que elas ainda sejam proibidas na maior parte do território.
Uma reportagem da National Geographic mostrou como algumas instituições norte-americanas estão se preparando para treinar esses profissionais.
Como lembra Bit Yaden, psiquiatra da Johns Hopkins Medicine, a terapia assistida por psicodélicos é muito diferente das terapias convencionais. Como afirmou a médica, que está preparando um currículo piloto para estudantes de psiquiatria das universidades Hopkins, Yale e Nova York: “Quando prescrevo Lexapro, meu paciente pega a receita e, em um mês, fico sabendo como está indo”, diz ela, reforçando que, com os psicodélicos, é necessária um acompanhamento em tempo real, além das sessões de integração posteriores.
A FDA (equivalente à Anvisa, nos EUA) deve avaliar ainda este ano a regulamentação do MDMA como tratamento para o transtorno de estresse pós-traumático.
Como lembra a reportagem, o primeiro estudo clínico de fase 3 da organização MAPS, o mais avançado até o momento, mostrou que depois de três sessões com MDMA (com doses entre 80 e 180 miligramas), três sessões de terapia preparatória e nove sessões pós-medicação, dois terços dos participantes do estudo não tinham mais TEPT.
Além disso, em estados como o Oregon e o Colorado, o uso de cogumelos com psilocibina já é regulamentado. Com isso, cresce cada vez mais o questionamento: quem vai ser responsável por aplicar essas substâncias?
O Instituto de Estudos Integrais da Califórnia, em São Francisco, foi o primeiro órgão dos EUA a oferecer um programa de treinamento em terapia assistida por psicodélicos, há sete anos. Nos últimos anos, muitas outras instituições seguiram o mesmo caminho. Como aponta a reportagem, o problema é que “não existem padrões nacionais, o que leva ao temor de que alguns desses profissionais possam ter habilidades inadequadas, já que cada instituição cria seu próprio currículo”.
Uma parte importante do aprendizado é saber lidar com questões como as experiências místicas, que muitas vezes são relatadas em sessões com cogumelos. Para alguns, é importante que os próprios terapeutas tenham passado por experiências semelhantes a fim de compreender melhor seus pacientes.
Nesse sentido, a Vancouver Island University, no Canadá, por exemplo, foca seu treinamento de um ano em exercícios de desenvolvimento e discussões para promover o crescimento pessoal e emocional do terapeuta. “O uso de psicodélicos é uma forma de lembrar quem você é”, diz Geraldine Manson, membro da Primeira Nação Snuneymuxw do Canadá, que ensina no programa.
O problema é que, nos EUA, no geral, o uso de psicodélicos é proibido, o que é uma grande limitação para a aprendizagem dos terapeutas.
“É evidente quando alguém nunca usou um psicodélico. Os tipos de perguntas que eles fazem mostram que eles não têm ideia da experiência que estarão proporcionando ao paciente”, diz Pam Kryskow, presidente médica do programa da Vancouver Island.
Enquanto a regulamentação não vem, os centros de treinamento se preparam para acompanhar a demanda, mas, muitos especialistas, estimam que vai faltar mão de obra especializada, pelo menos no início. Para que os psicodélicos possam se formar como tratamentos é preciso que essas limitações sejam vencidas o quanto antes.
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Imagem: Reprodução.