Um artigo publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience mostrou que estímulos apresentados antes de uma sessão psicodélica podem moldar a experiência com substâncias do tipo. Para chegar à conclusão, a equipe de pesquisadores liderados pelo psiquiatra Nicolas Garel, da McGill University, entrevistou 26 voluntários com depressão resistente que participaram de um ensaio clínico com cetamina intravenosa.
De acordo com os resultados, em dois casos, as experiências com cetamina foram significativamente alteradas por conta da alta exposição às mídias digitais nos dias anteriores ao tratamento, reduzindo as qualidades místicas/emocionais das sessões. Já os dados qualitativos de 24 pacientes mostraram que exposições ambientais passadas se manifestaram como mirações visuais durante experiências com cetamina.
Com base em pesquisa bibliográfica, os autores argumentaram que substâncias como ayahuasca, LSD e outros psicodélicos também são capazes de sofrer influência de exposições prévias de conteúdo.
Os resultados do estudo têm consequências potenciais para a pesquisa e prática clínica, sugerindo que as pesquisas não devem focar apenas no ambiente imediato da experiência. “As influências potenciais de exposições ambientais recentes e passadas requerem investigação e consideração, especialmente em populações onde pode haver uso excessivo de mídia digital”, escreveram os pesquisadores. “Estudos fenomenológicos adicionais também são necessários para entender melhor, por exemplo, se as referências comuns à Disney durante experiências psicodélicas refletem exposições visuais impressas ou referências culturais compartilhadas.”
Segundo a pesquisa, atividades como meditação ou introspecção podem não apenas trazer benefícios psicospirituais diretos, mas também benefícios indiretos por meio da redução de influências contraterapêuticas. Ainda assim, segundo os pesquisadores, tecnologias imersivas como a realidade virtual podem ser usadas para moldar experiências psicodélicas, imprimindo temas ou imagens desejados nas mentes dos participantes nas horas ou dias que antecedem suas sessões com as substâncias.
Os autores resumem os achados afirmando que tudo aquilo que a pessoa coloca na mente pode ser recebido de volta durante uma experiência psicodélica.
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