Norman Rosenthal tinha acabado de se mudar de Joanesburgo, na África do Sul, para Nova York, nos Estados Unidos. Eram os anos 1980, e ele estava fazendo sua residência médica em uma das cidades mais agitadas do mundo. Mas estava triste.
“O horário de verão acabou e os relógios foram atrasados em uma hora. Saí do trabalho naquela primeira segunda-feira após a mudança de horário, e encontrei o mundo na escuridão. Um vento frio soprando do rio Hudson me encheu de pressentimento. Chegou o inverno”, escreveu Rosenthal no livro Winter Blues: Everything You Need To Know to Beat Seasonal Affective Disorder (ou “Tristeza de Inverno: Tudo o que Você Precisa Saber Para Lidar com o Transtorno Afetivo Sazonal”, em tradução livre para o português).
“Minha energia diminuiu um pouco e me perguntei como pude fazer tantas tarefas no verão anterior. Eu estava louco? Agora parecia não haver alternativa a não ser aguentar e tentar manter tudo em ordem. Eu entendi pela primeira vez os temperamentos estóicos das nações do norte”, lamentou o então residente. “Então, finalmente, chegou a primavera. Meu nível de energia aumentou novamente e me perguntei por que havia me preocupado tanto com minha carga de trabalho.”
Em 1984, essa variação de humor inspirou a publicação de um artigo no qual Rosenthal batizou cientificamente a tristeza de inverno (ou “winter blues”) que sentia: era o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), conhecido também como “depressão sazonal”, que se caracteriza por um forte abatimento em determinadas épocas do ano.
Anos depois, Rosenthal publicou um estudo mostrando que, nos EUA, a condição era mais prevalente no norte, mais frio, a exemplo de New Hampshire, onde 10% da população tem um diagnóstico do tipo. Mas, apesar de menos comum, é possível que pacientes de TAS também apresentem sintomas de depressão no verão. No lugar da letargia provocada pelo frio, no calor, elas tendem a se sentir mais agitadas e irritadas.
Em 2018, em um estudo publicado na Nature, pesquisadores observaram, através do estado de ânimo das publicações feitas em redes sociais, que a linguagem depressiva tende a aumentar na mesma medida que a temperatura.
Segundo Rosenthal, que hoje é psiquiatra da Faculdade de Medicina de Georgetown (EUA), e uma das principais autoridades no assunto, há evidências de que a depressão sazonal esteja relacionada à variação de serotonina no cérebro, que diminui conforme a duração do dia cai.
“Também há evidências de que a luz brilhante que incide sobre os olhos se transforma em sinais nervosos que estimulam a transmissão de serotonina em partes do cérebro responsáveis pela regulação do humor”, explicou Rosenthal à CNN. “Uma hipótese é que essas vias de serotonina são afetadas em pessoas com SAD, de modo que não funcionam com tanta eficiência quando não há luz suficiente.”
Os sintomas da condição se assemelham a uma depressão tradicional, que incluem alterações de sono, perda de interesse pelas coisas, mudança na forma de alimentação, perda de energia, fadiga e dificuldade para se concentrar, além de vontade de dormir acima do normal e aumento de apetite.
“É como se os seres humanos estivessem tentando hibernar”, explicou à National Geographic o psiquiatra Paul Desan, diretor da Clínica de Pesquisa de Depressão Invernal de Yale. “As mulheres sofrem, aproximadamente, três vezes mais de TAS do que os homens, por razões que não entendemos”, pontuou Desan, explicando que é comum que alguns pacientes, com um quadro mais leve, sejam diagnosticados com “TAS subsindrômico”.
Casos do tipo podem ser tratados com fototerapia, procedimento realizado em hospitais e clínicas, que consiste em banhar a pessoa com luzes brilhantes a fim de substituir a exposição solar. Além disso, o uso de alguns medicamentos antidepressivos e a psicoterapia também podem ajudar as pessoas a lidar com a questão.
“Vale lembrar que a adoção de hábitos saudáveis é sempre benéfica. A escolha de alimentos nutritivos, como frutas, verduras e legumes, é totalmente favorável à redução da incidência de depressão. A prática regular de atividade física é importante aliada, pois estimula a liberação dos hormônios responsáveis pelo bem-estar”, explicou ao jornal Estado de Minas a psicóloga Monica Machado. “Por fim, uma boa dica é tirar férias e, claro, ir para lugares com clima mais animador.”