A ibogaína é um psicodélico originário da África, que vem sendo usado para o tratamento de dependência de substâncias. Por proporcionar um efeito rápido e duradouro no tratamento de transtornos como a dependência de substâncias, tem despertado o interesse de pessoas que já passaram por diversos tipos de tratamento sem encontrar uma solução.
O Dr. Bruno Rasmussen Chaves já tratou mais de dois mil pacientes com psicoterapias integradas de saúde mental com substâncias psicodélicas, e, desde 1997, ministra a ibogaína. Também é o diretor clínico da Beneva, onde desenvolve o tratamento com o auxílio de uma equipe multidisciplinar.
Atuante na academia, através de um estudo retrospectivo da Unifesp feito com 75 pacientes, mostrou que 70% deles permaneciam sem abusar de drogas ilícitas ou lícitas (como álcool) um ano depois do tratamento.
Nesta entrevista, ele explica o que é a ibogaína e responde as dúvidas mais frequentes sobre como funciona seu tratamento.
A Ibogaína é um alcalóide extraído de algumas plantas originárias da África, como a Tabernanthe Iboga e a Voacanga africana. É utilizada em rituais ancestrais na África, desde a pré-história. Em 1962 foi descoberto pelo americano Howard Lotsof que a ibogaína tem um efeito bastante significativo no tratamento da dependência química.
A ibogaína estimula, pelo cérebro, a produção do hormônio GDNF (Glial cell derivated neurothrofic factor), que estimula a conexão entre neurônios, a formação de sinapses e equilíbrio dos neurotransmissores, levando a uma sensação sustentada de bem estar e à diminuição do desejo de consumir drogas.
Sim, eliminando a fissura (craving) e tirando a abstinência em poucos horas.
Doenças graves do coração, rins, fígado, e problemas mentais mais sérios, como psicoses por exemplo.
A ibogaína não está listada na Portaria 344 da ANVISA, de medicamentos controlados. Porém, ainda não é registrada no Brasil. Assim, pode ser usada apenas na modalidade de “importação de medicamento para uso pessoal”
O paciente faz alguns exames gerais, como exames de sangue e eletrocardiograma, e algumas sessões de psicoterapia. Após, é internado em um hospital por 24h para ser monitorizado e cuidado durante o efeito da substância. Depois disso, recebe alta e continua com mais algumas sessões de terapia até a liberação final.
Hidrocloreto de Ibogaína, fabricado segundo as normas de boas práticas farmacêuticas e com pureza acima de 99%. Isso é importante para a segurança do tratamento, já que as impurezas podem ser responsáveis por reações indesejáveis.
Sim, no caso de estimulantes como cocaína e crack. O motivo é que se a ibogaína entra em um organismo onde circulam ou onde recentemente tenham circulado estas substâncias, existe um rico de arritmias cardíacas potencialmente perigosas.
Eu preciso da ibogaína justamente porque não consigo ficar 30 dias sem usar drogas. Como vou conseguir ficar sem usá-las antes do tratamento?
Nossa equipe dará todo o apoio necessário, tanto medicamentoso quanto psicoterápico. Praticamente todos nossos pacientes tem esse problema, mas com o devido suporte conseguem ficar bem durante esse período, sem tanta dificuldade como inicialmente parece. Em último caso, se necessário, sugerimos uma internação curta para esta desintoxicação.
Para prevenir e proteger o paciente de complicações sérias da parte cardíaca
Durante a estadia no hospital você deverá ficar sozinho. Mas na alta, muitos pacientes ainda referem um pouco de tontura e náuseas, por isso é importante um acompanhante de confiança para dar suporte até a recuperação total.
É exatamente por isso que recomendamos a preparação psicológica, para que a pessoa já chegue preparada para o que pode vir à tona durante a experiência. E o acompanhamento psicoterapêutico após a tomada da medicação ajuda a “digerir” estas experiências e a lidar melhor com elas. E pelo contrário, o acesso a essas lembranças de forma guiada e protegida é um fator de melhora.
Sim, para se ter certeza que nenhuma substância potencialmente prejudicial esteja em circulação. Caso o exame esteja positivo, a tomada da medicação é adiada até as condições clínicas estarem satisfatórias.
Entre 5 a 7 dias.
De maneira nenhuma, da maneira que importamos a medicação e fazemos os tratamentos, estamos totalmente dentro da legalidade.
Não é um milagre. Essa pesquisa observou os resultados do tratamento de 75 pessoas tratadas com ibogaína para dependência e constatou que, ao fim de um ano, 72% se mantinham abstinentes.
O segredo para evitar complicações é seguir à risca o protocolo recomendado, fazendo os exames requeridos e o esforço pela abstinência prévia. É isto que previne qualquer tipo de complicação grave.
Sim. Temos observado esse efeito regularmente entre os pacientes que atendemos nos últimos 28 anos. Além dessa experiência clínica, estudos recentes têm confirmado esse efeito. Ao que tudo indica, isso é resultado de um reequilíbrio dos neurotransmissores provocado pela ibogaína.
Em um estudo recente, publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria, por exemplo, analisamos o caso de uma mulher de 47 anos, com histórico de 20 anos de transtorno bipolar. Observamos que após 15 dias, houve melhora geral na comparação com a avaliação inicial, bem como uma recuperação funcional. A paciente relatou aumento de clareza mental, pensamento organizado e perspectivas positivas em relação ao futuro.