O Dr. Bruno Rasmussen, diretor médico da Beneva, é um dos destaques da série “Yes, nós temos ciência psicodélica”, do jornalista Carlos Minuano, uma parceria entre a revista CartaCapital e o site Psicodelicamente, com apoio do Instituto Serrapilheira.
Nesta primeira parte, Minuano se dedica a contar a história dos psicodélicos, desde sua proibição, com a política de Guerra às Drogas do governo Richard Nixon, até o renascimento destas substâncias no contexto atual. Além de Rasmussen, a reportagem conta ainda com outros grandes nomes da psicodelia nacional, como o historiador Henrique Carneiro e o neurocientista Sidarta Ribeiro.
Os especialistas lembram que nem sempre esses expansores da consciência atenderam pelo termo “psicodélico”. Antes disso, já haviam sido chamados, por exemplo, de “drogas fantásticas”, pelo farmacologista alemão Ludwig Lewin, em 1920.
A palavra “psicodélico” só apareceu na década de 1950, a partir de cartas trocadas entre o psiquiatra Humphry Osmond e o escritor Aldous Huxley, autor dos clássicos “As Portas da Percepção” e “Admirável Mundo Novo”.
Naquela época, as pesquisas avançavam, e essas substâncias já se mostravam promissoras na área da psiquiatria. Mas, no final da década de 1960, os psicodélicos saíram dos laboratórios e ganharam as ruas, impulsionando não apenas movimentos de contracultura, como também experimentos secretos do governo norte-americano.
“Aumentou muito o consumo nos EUA e por uma questão de preconceito e desinformação o governo resolveu proibir ao invés de regulamentar”, contou Rasmussen.
No livro “O Uso Ritual das Plantas de Poder”, Henrique Carneiro explica: “De Woodstock à chacina de Charles Manson, a divulgação de bad trips e a proibição criaram o clima paranoico que tornou as experiências lisérgicas influenciadas por expectativas negativas”.
O discurso do medo foi (e ainda é) uma criação que não se sustenta cientificamente. Segundo Rasmussen, os compostos psicodélicos são diferentes das chamadas drogas de abuso, como cocaína e crack, pois “quando entram no organismo promovem uma mudança na arquitetura do cérebro, um aumento da conexão entre os neurônios”, podendo, na maioria das vezes, serem positivos, principalmente em casos de dependência química, transtorno do estresse pós-traumático ou depressão.
Ainda de acordo com Rasmussen, os psicodélicos podem ser ferramentas potentes em casos de doenças que ainda não possuem tratamentos disponíveis, ou no caso de transtornos resistentes aos medicamentos que existem atualmente.
“Tem dependente químico, por exemplo, usando vários tipos de remédios, antidepressivos, estabilizadores de humor, sedativos e não resolve nada, continua se drogando”, explicou o médico, destacando ainda que os psicodélicos não causam dependência.
A reportagem lembra que o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de países que mais produzem estudos de impacto sobre psicodélicos, atrás somente dos EUA e do Reino Unido, de acordo com um levantamento de David Wyndham Lawrence, publicado no Journal of Psychoactive Drugs.
Apesar do otimismo, os cientistas temem que os recentes cortes na ciência possam atrapalhar o bom momento da ciência psicodélica no Brasil. Mas, a julgar pelos avanços na área, os psicodélicos devem continuar transcendendo.
Para assistir o vídeo da entrevista completa do Dr. Bruno Rasmussen, clique aqui. E você também pode ler a reportagem da série “Yes, nós temos ciência psicodélica”, da CartaCapital em parceria com a Psicodelicamente, clicando aqui.
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