Imagem: Chokniti Khongchum/ Pexels
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) planeja lançar dois estudos clínicos envolvendo psicodélicos. Um para testar o uso de DMT (da ayahuasca) no tratamento de dependência de álcool, e outro para avaliar os efeitos dos cogumelos com psilocibina em pessoas que desejam parar de fumar.
A Bienstar, holding que opera a Beneva, vai arcar com cerca de 20% dos custos das pesquisas, orçadas em R$ 600 mil.
Como destacou o jornalista Marcelo Leite, no blog Virada Psicodélica, da Folha de S.Paulo, trata-se de estudos preliminares, que não contam com controle por grupo de placebo, e que se destinam mais a avaliar a segurança e a metodologia do que a eficácia em si. Os estudos serão compostos por uma média de 14 participantes, que serão recrutados entre pacientes do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) da Unifesp.
A coordenação dos estudos vai ser feita pelo biomédico e neurocientista Renato Filev.
O psiquiatra Dartiu Xavier da SIlveira, consultor científico da Beneva, também vai participar dos estudos. “Vamos olhar efeitos colaterais de modo muito cuidadoso. Afinal, estamos trazendo psicodélicos para dentro de um hospital psiquiátrico, precisamos de cautela para evitar imprevistos”, explicou à Folha o pesquisador — que é referência nos estudos com psicodélicos no Brasil e continuador da linha de pesquisa do psicofarmacologia Elisaldo Carlini, que viveu até 2020, e foi pioneiro na investigação de canabinoides.
Psicodélicos contra dependência
Em 2016, a Universidade Johns Hopkins publicou um estudo que avaliou os efeitos da psilocibina em 15 tabagistas, que também passaram por psicoterapia. Destes, 13 avaliaram a experiência como a mais significativa de suas vidas, e 10 estavam sem fumar um ano depois do tratamento.
O protocolo adotado pela Unifesp vai ser semelhante ao da Johns Hopkins, com até nove encontros, que incluirão sessões de triagem e preparação seguidas de dosagem e integração, além de possíveis sessões no mês seguinte.
Outros trabalhos no Brasil também já avaliaram a eficácia dos psicodélicos no tratamento de dependência. Em 2016, o psicólogo Bruno Ramos Gomes, responsável pelos atendimentos da Beneva (que também presidiu o Centro de Convivência É de Lei por cinco anos e fundou o coletivo ResPire de redução de danos), publicou o livro “O Uso Ritual de Ayahuasca na atenção à população em situação de rua” (EDUFBA), no qual fala sobre o uso da bebida de origem amazônica em regiões como a Cracolândia.
“A fissura é um dos principais fatores de descontrole. A pessoa não quer usar, mas quando vê já está maquinando como conseguir a droga. São comportamentos quase automáticos como esse que os psicodélicos ajudam a reduzir”, explicou Gomes, ao site Psicodelicamente.
Outro estudo, feito na Unicamp, pelo psicólogo Dimitri Daldegan-Bueno, publicado no Journal of Psychopharmacology, mostrou que quanto maior a intensidade das experiências místicas sentidas nos trabalhos com o chá maiores as chances de uma pessoa querer parar de fumar.
“De forma geral, essa pesquisa adiciona evidências tanto para os potenciais terapêuticos dos psicodélicos como ferramentas de auxílio no tratamento do tabagismo, quanto para a experiência mística como um mecanismo de alívio da dependência de substâncias, ressaltando a importância de continuar pesquisando a relação entre os psicodélicos e o uso de outras substâncias, seus mecanismos e potenciais”, escreveu Daldegan-Bueno, em um artigo do site Ciência Psicodélica.
O futuro dos testes
Em entrevista ao jornalista Marcelo Leite, o fundador da Bienstar, Marco Algorta, disse que “o engajamento em pesquisa e na criação da rede de clínicas Beneva tem em vista as mudanças na regulação de substâncias como DMT, psilocibina e MDMA, que poderão ter licenças para uso clínico aprovadas nos próximos anos”.
“Queremos nos antecipar a essas mudanças e ter a oportunidade de obter informação clínica para fazer uma avaliação dos protocolos de atendimento com essas substâncias”, afirmou Algorta.
Entre os planos da empresa, estão a realização de mais testes clínicos com ibogaína e o refinamento de protocolos para tratar depressão e estresse pós-traumático.
Leia a reportagem completa do blog Virada Psicodélica, da Folha de S.Paulo, clicando aqui.