O aumento no número de pesquisas e a divulgação de séries e reportagens têm tornado os cogumelos populares no Brasil. Uma reportagem da BBC Brasil, da jornalista Julia Braun, mostra como tem se dado o aumento do consumo.
“É possível que o consumo tenha se popularizado nos últimos anos por conta da facilidade de acesso, apesar do uso de cogumelos ser uma prática ancestral tradicional”, afirma Renato Filev, coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas.
A professora Clarice Madruga, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concorda com a percepção de popularização. “Temos a impressão de que houve sim um aumento no consumo, assim como muito provavelmente aumentou o consumo da maconha por conta da inserção do tema no debate público. Mas não temos dados epidemiológicos”, afirma.
Essa facilidade de acesso se dá porque, apesar da psilocina e da psilocibina constarem na chamada lista F2 de substâncias psicotrópicas (cujo uso está proibido no Brasil), os cogumelos em si não são proibidos — ou seja, o fungo não é proibido, mas as substâncias extraídas dele, sim, o que cria um “limbo jurídico”.
“Em uma interpretação extremamente legalista, normativa e dogmática pode-se entender que como a psilocibina é proibida, o consumo dos cogumelos e sua venda também estão proibidos”, diz a professora de Direito Penal Econômico da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fernanda Vilares. “Mas em uma concepção mais progressista e liberal, que tende a maximizar as liberdades dos indivíduos e protegê-los sem paternalismo exacerbado, o uso de cogumelo in natura não é ilgeal, porque não está previsto na lista da Anvisa.”
A reportagem ainda reforça os efeitos terapêuticos promissores, como aqueles que vêm sendo demonstrados nas pesquisas da Imperial College London, que mostra que a psilocibina pode tratar pessoas com depressão grave ao tirá-la “de uma rotina de pensamento negativo”. Outra pesquisa, do Universidade King’s College London revelou que um comprimido de 25 mg de psilocibina pode facilitar a psicoterapia, ao deixar os pacientes mais abertos a compartilharem suas questões.
Os pesquisadores destacam, no entanto, que é necessário um número maior de pesquisas sobre o tema, e que para alcançar os efeitos terapêuticos desejados o uso deve ser feito com acompanhamento profissional.
“Precisamos entender o que é o uso terapêutico de uma substância. Não pode ser algo subjetivo, como alguém que de forma autônoma começa a usar cogumelos e julga que lhe faz bem”, conclui Clarice Madruga.