No dia 13 de abril, a Beneva realizou uma live no Instagram com a antropóloga Lígia Platero, que estuda plantas professoras e xamanismo. Platero é associada do programa de educação do Instituto Chacruna, organização que realiza o Queering Psychedelics II — apoiado pela Beneva — nos dias 22 e 23 de abril, em São Francisco (Califórnia).
Durante a conversa, a antropóloga comentou sobre o crescente uso de psicodélicos naturais como a ayahuasca em contexto urbano. “Tem cada vez mais pessoas na cidade, buscando esse tipo de experiência ritual, não só com ayahuasca, mas também com outras substâncias, como rapé, sananga e kambô”, pontuou.
“E há uma procura muito grande por pessoas estrangeiras (…) que querem aprender outros saberes com as populações originárias, para poder fazer uma tradução e levar isso ao consultório. Os saberes indígenas estão aí há milênios, e muitas pessoas acham que é preciso um aval da ciência ocidental para validar se o que eles fazem realmente funciona.”
Platero, que se identifica como uma pessoa queer, também comentou sobre seu casamento com a socióloga Klarissa Platero, realizado em uma cerimônia no Santo Daime. Como afirmou no texto em que detalhou o assunto (leia aqui), ainda existe muito preconceito dentro de meios tidos como progressistas.
É por isso que eventos como o Queering Psychedelics II são essenciais para impedir que estigmas comuns na sociedade se reproduzam no campo dos psicodélicos.
Com mais de 40 palestrantes, a ideia do Queering Psychedelics II é dar voz às pessoas LGBTQIA+, refletindo sobre os rumos das substâncias psicodélicas na nossa sociedade.
Entre as palestras mais aguardadas, estão a da psicóloga Clancy Cavnar, que vai sobre as experiências de pessoas gays e lésbicas no meio ayahuasqueiro e o efeito do psicodélico na percepção da identidade. Nomes como Courtney Waston e Taylor Dahlia Bolinger vão falar sobre o uso de cetamina por pessoas queer e o ativismo trans nos espaços psicodélicos. Os participantes ainda vão acompanhar mesas de temas como erotismo queer e redução de danos psicodélicos para a comunidade LGBTQIA+.
“Com certeza vai ser muito emocionante, vão ser dois dias bem intensos”, declarou Platero. “Com isso, o Instituto Chacruna busca romper com privilégios e relações de poder.”
As conversas vão dar sequência ao Queering Psychedelics I, realizado em 2018, e cujas as palestras deram origem aos 38 ensaios do livro “Queering Psychedelics: From Oppression to Liberation in Psychedelic Medicine”.
A obra cobre tópicos como privilégio, interseccionalidade e estigmatização de corpos fora do padrão, além de abordar a necessidade de reflexão sobre como lidar com traumas sofridos especificamente pela população LGBTQIA+, sobre a qual recai questões de exclusão social, patologização, criminalização e estigmatização.
Ao site site Psicodelicamente, a psicóloga Clancy Cavnar afirmou: “No mundo da medicina psicodélica, os esforços para tornar os tratamentos mais eficazes precisam incluir uma compreensão da cultura gay; a maneira como as experiências de estar ‘no armário’ e a vergonha e a rejeição influenciam os sentimentos de segurança”.
Por isso, é preciso pensar nas particularidades da população LGBTQIA+. Não para segregar, mas para que mais traumas não ocorram. “No mundo dos psicodélicos, existe essa crença de que todos vão ser iguais, de que um dia nossos olhos serão abertos e não veremos mais diferenças. Claramente, isso não é verdade.”
Para saber mais sobre o Queering Psychedelics II, apoiado pela Beneva, visite o site do Instituto Chacruna.
Para ver a live completa com a antropóloga Lígia Platero, clique aqui.