A depressão, um transtorno mental debilitante que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, continua sendo um desafio significativo para os profissionais de saúde. Apesar dos avanços no campo da psicoterapia e dos antidepressivos tradicionais, muitos pacientes não respondem adequadamente a esses tratamentos convencionais ou experimentam efeitos colaterais debilitantes.
Diante dessa demanda urgente, surgiu uma abordagem promissora na forma da cetamina, um medicamento que tem chamado a atenção da comunidade médica e científica. Conhecida principalmente por seu uso como anestésico e analgésico, a cetamina tem começado a receber atenção como um tratamento potencialmente revolucionário para a depressão resistente ao tratamento.
Ao contrário dos antidepressivos tradicionais, que podem levar semanas ou até meses para serem eficazes, a cetamina tem demonstrado efeitos rápidos e duradouros na melhora dos sintomas depressivos. Isso tem gerado um aumento na discussão sobre se a substância poderia se tornar a primeira opção de tratamento para a depressão.
Neste artigo, exploraremos o papel da cetamina nesse contexto e discutiremos os possíveis desafios e limitações associados ao seu uso como tratamento de primeira opção. É importante ressaltar que, embora o anestésico demonstre um grande potencial, seu uso como tratamento para a depressão ainda necessita de estudos mais aprofundados. Portanto, é fundamental avaliar os dados disponíveis e considerar cuidadosamente tanto os benefícios quanto os possíveis riscos antes de determinar se a cetamina é uma opção adequada como tratamento de primeira opção para a depressão.
Estudos destacados, como o realizado por Murrough e sua equipe, em 2013, forneceram evidências sólidas e apoio para considerar seriamente o uso da cetamina para depressão nesses casos específicos.
Os achados do trabalho indicaram que a cetamina pode ter um impacto rápido e duradouro na melhoria dos sintomas depressivos, ao contrário dos antidepressivos tradicionais, que frequentemente exigem semanas para mostrar eficácia.
Uma explicação é que a cetamina atua nos receptores de glutamato no cérebro, o que resulta em efeitos únicos já que são distintos dos antidepressivos convencionais. Isso tem sido associado a uma melhora rápida nos sintomas depressivos em um curto período de tempo, despertando grande interesse na comunidade médica.
A eficácia da cetamina e a duração de seus efeitos fazem os especialistas questionarem se é possível considerar o fármaco como uma primeira opção de tratamento.
Um artigo publicado no periódico Psychological Medicine, em 2016, examinou os efeitos da cetamina como complemento do escitalopram em pacientes com depressão maior. O objetivo do estudo foi investigar se a administração intravenosa de cetamina como terapia adjuvante à medicação antidepressiva convencional (neste caso, o escitalopram) poderia melhorar os resultados em pacientes com depressão maior.
Trata-se de um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo, com duração de 4 semanas. Os 30 participantes foram divididos em dois grupos: um deles recebeu uma única infusão de cetamina junto com a dose de escitalopram, e o outro recebeu uma única dose intravenosa de placebo.
Os resultados mostraram que o grupo que recebeu a cetamina experimentou uma melhora significativamente maior nos sintomas depressivos em comparação com o grupo placebo. Além disso, esse grupo também apresentou uma melhora mais rápida nos sintomas depressivos durante as primeiras 24 horas após a administração de cetamina.
Tabla 1. Resultados del estudio de Hu y colaboradores. Porcentajes de respuesta (a) y remisión (b).
Como é possível ver na Tabela 1, após 4 semanas de tratamento, foi observada uma maior resposta nos pacientes que receberam cetamina em comparação com aqueles que receberam o placebo (92,3% versus 57,1%). Além disso, um número significativamente maior de pacientes alcançou remissão no grupo que recebeu a cetamina (76,9% versus 14,3%).
Em termos de efeitos colaterais, alguns efeitos transitórios relacionados à cetamina foram observados, como dissociação e aumento da pressão arterial, mas nenhum efeito adverso grave foi relatado.
Essas descobertas sugerem que a administração intravenosa de cetamina como terapia complementar à medicação antidepressiva convencional pode ser uma alternativa eficaz para acelerar e melhorar os resultados em pacientes com depressão maior.
Nesse sentido, é possível considerar a cetamina como uma opção promissora quando utilizada em combinação com a medicação antidepressiva padrão, especialmente em casos de depressão grave ou com sintomas de ideação suicida, nos quais é necessário agir rapidamente para preservar a saúde e a vida do paciente, mesmo que não tenha sido diagnosticada uma depressão resistente.
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Imagem: Chris Howard/ Pexels